Total de visualizações de página

Total de visualizações de página

terça-feira, 22 de junho de 2021

 A Reforma religiosa

O contexto

No início do século XVI, ca Igreja católica enfrentava uma crise interna. Parte do clero havia se distanciado dos princípios originais da fé cristã, como pobreza, humildade, auxílio aos mais necessitados, justiça, simplicidade, retidão, penitência, etc. A Igreja havia se voltado para a ostentação do luxo e do poder, mais preocupada com questões políticas e econômicas do que com questões espirituais.

Na Igreja disseminavam-se práticas como a simonia (venda de cargos eclesiásticos e de relíquias, em especial de objetos atribuídos a Jesus e aos santos), a venda de indulgências (pagamento pelo perdão dos pecados) e o comportamento desregrado de muitos membros do clero, que os afastavam dos preceitos religiosos e aproximava-os da vida mundana.



Além disso, alguns dogmas da Igreja representavam um obstáculo ao desenvolvimento das práticas mercantilistas, como a doutrina do “preço justo” e o pecado da usura. O “preço justo” estabelecia que o valor de uma mercadoria deveria ser a soma do custo da matéria-prima mais o valor da mão de obra, sem qualquer taxa de lucro. Da mesma forma considerava-se como pecado da usura a cobrança de juros sobre o valor de um empréstimo calculado sobre o tempo da quitação da dívida.

Entre os séculos XII e XV, com a formação das monarquias nacionais, cresceu entre os povos de uma mesma região um sentimento de unidade nacional. Esse sentimento colocava a autoridade papal em risco, pois a religião deixava, aos poucos, de representar o elemento de unidade dos povos europeus.


Os precursores da Reforma

Os anseios por reformas e as críticas aos desmandos da Igreja ocorriam desde o século XIV. Na Inglaterra, John Wycliffe, professor de Teologia em Oxford, criticava a conduta clerical de vender indulgências, questionava o acúmulo material da Igreja e pregava a ideia de que qualquer pessoa poderia se salvar se tivesse fé, pois a salvação viria de Deus.

O movimento iniciado por Wycliffe no século XIV não teve forças para abalar totalmente as estruturas da Igreja, porém chamou a atenção de outros clérigos que também estavam descontentes com a Igreja católica.

Na região da Boêmia, sul da atual Alemanha, Jan Huss, discípulo de John Wycliffe e professor da Universidade Carolina de Praga, pregava contra o luxo e a corrupção dentro do catolicismo. Por não se retratar, foi condenado por heresia no Concílio e Constança, preso e queimado vivo em 1415.

As críticas radicais contra o papado e as práticas irregulares da Igreja serviram de base para a Reforma protestante e as revisões da unidade católica no século XVI.

A Reforma luterana

Martinho Lutero, monge agostiniano, viveu na Alemanha na passagem do século XV para o XVI. Nessa época, a Alemanha fazia parte do Sacro Império Romano-Germânico.

Por estar fragmentado politicamente e ter forte influência da Igreja Católica, o território alemão era extremamente tributado pela Igreja e, por isso, os príncipes viviam descontentes com a interferência dos clérigos, o excesso de impostos e o acúmulo de territórios da Igreja na região. Era um contexto bastante propício à Reforma.

Em 1517, o papa Leão X decretou, por meio de uma bula, o aumento do valor das indulgências com o intuito de concluir a Basílica de São Pedro, no Vaticano. Tetzel, um frade dominicano, ficou encarregado da venda de indulgências na Alemanha.

Revoltado com a situação, Lutero formulou 95 teses contrapondo-se às indulgências, além de vários outros aspectos da fé católica, e as colou na porta da Igreja de Wittenberg.



Teses de Lutero contra indulgências

Entre as teses publicadas no documento de Martinho Lutero, estavam:

“21. Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que a pessoa é absolvida de toda

pena e salva pelas indulgências do papa. [...]

27. Pregam doutrina humana os que dizem que, tão logo tilintar a moeda lançada na caixa, a alma

sairá voando [do purgatório para o céu].[...]

36. Qualquer cristão verdadeiramente arrependido tem direito à remissão pela pena e culpa, mesmo

sem carta de indulgência.[...]

95 teses. Debate para o esclarecimento do valor das indulgências pelo doutor Martin Luther, 1517.

Disponível em: <www.luteranos.com.br/lutero/95_teses.html>. Acesso em: 12 jun. 2017.


Graças à imprensa, aprimorada por Gutenberg, as teses de Lutero se espalharam pela Europa, chegando a intelectuais e letrados da época.

Diante da repercussão das teses, o papa Leão X exigiu a imediata retratação de Lutero; o que não ocorreu. Novamente, em 1520, o papa ordenou, por meio de uma bula papal, a retratação, sob a pena de Lutero ser considerado herege. Diante da nova negativa, Lutero foi excomungado, mas conseguiu proteger-se com a ajuda de parte da nobreza germânica.

Carlos V, imperador do Sacro Império Romano-Germânico e católico fervoroso, convocou a Dieta de Worms, para julgar os atos de Lutero contra a Igreja Católica. Apesar do apoio de vários príncipes germânicos ao movimento reformista, Carlos V determinou a excomunhão de Lutero e o controle eclesiástico sobre a vida intelectual e religiosa de todos. Refugiado no castelo do príncipe Frederico da Saxônia, Lutero passou a trabalhar na tradução da Bíblia para o alemão.

Nesse ambiente de contestação, Thomas Müntzer, líder anabatista e seguidor radical das ideias luteranas, coordenou uma revolta de camponeses alemães, entre 1523 e 1525, reivindicando o fim da servidão camponesa, a liberdade de escolha dos líderes religiosos, o fim dos tributos e a divisão das terras pertencentes à Igreja. A nobreza, apoiada por Lutero e interessada na posse das terras clericais, reprimiu de forma violenta essa revolta.

Em 1529, em uma nova tentativa, Carlos V tentou submeter os príncipes reformistas na Dieta de Espira.

Estes, por sua vez, foram contra e passaram a ser denominados protestantes. No ano seguinte, os príncipes do Sacro Império se reuniram na cidade de Augsburgo na Dieta de Augsburgo, na qual o teólogo Philipp Melancthon, amigo pessoal de Lutero, apresentou os princípios fundamentais da doutrina luterana na chamada Confissão de Augsburgo:

• a salvação pela fé;

• sacerdócio universal dos fiéis;

• livre interpretação da Bíblia;

• culto celebrado na língua vernácula;

• apenas dois sacramentos reconhecidos: o batismo e a eucaristia.

A partir de 1530, o Sacro Império foi palco de uma guerra civil entre os príncipes protestantes e grupos leais ao catolicismo e ao imperador. Esse conflito durou 25 anos. Em 1555, nove anos após a morte de Lutero, o conflito entre o imperador Carlos V e os príncipes protestantes teve uma definição. Conhecido como Paz de Augsburgo, o tratado determinava que os príncipes teriam a liberdade para escolher a religião em seus territórios, cabendo aos súditos a obrigatoriedade de segui-la.

A Alemanha se dividiu entre católicos e protestantes. O catolicismo predominou no sul, e o luteranismo, no norte. Outros países do norte da Europa também aderiram ao luteranismo, como Dinamarca, Suécia e Noruega.

A Reforma calvinista

Na França, em meados do século XVI, o teólogo João Calvino passou a defender as ideias luteranas em Paris. Mas, perseguido, mudou-se para Genebra, na Suíça, local em que as novas ideias já haviam sido bem recebidas.

Em Genebra, Calvino tornou-se líder político e religioso. Durante seu governo, criou o Consistório, órgão que controlava a vida política, econômica e religiosa dos cidadãos. Eram proibidos o jogo a dinheiro, o luxo, as danças e o teatro. Era forte a defesa de uma vida ascética, isto é, desligada dos valores mundanos.



Em sua nova doutrina foram mantidos dois sacramentos (batismo e eucaristia); o culto resumia-se à leitura e interpretação da Bíblia, preces e cantos; e os pastores eram considerados simples fiéis responsáveis pelas preces. A doutrina calvinista defendia a predestinação, ou seja, a salvação do indivíduo dependia exclusivamente da vontade divina. Além disso, o calvinismo aceitava a ideia do lucro, contrapondo-se ao catolicismo, que associava tal prática à avareza e ao apego excessivo ao dinheiro.

O calvinismo difundiu-se por várias partes, sobretudo onde prosperavam as atividades econômicas e mercantis. Os huguenotes na França, os puritanos na Inglaterra, os presbiterianos na Escócia e os reformistas na Holanda eram todos calvinistas.

A Reforma anglicana

Na Inglaterra, desde o século XIV, os abusos cometidos pela Igreja católica estavam sendo expostos por figuras como o teólogo John Wycliffe. Porém, a reforma religiosa só ocorreu por uma insatisfação real.

Henrique VIII (1509-1547), monarca inglês, era um fiel defensor da Igreja de Roma. Porém, casado com Catarina de Aragão, princesa espanhola, estava insatisfeito por ela não lhe dar um filho homem para sucedê-lo no trono. Em 1529, Henrique VIII enviou ao papa Clemente VIl um pedido para anular seu casamento, pois planejava casar-se com Ana Bolena, sua amante.



Após a negativa do papa em atender-lhe a solicitação, Henrique VIII decidiu romper definitivamente com a Igreja católica para poder concretizar seus interesses.

Em 1534, Henrique VIII, apoiado pelo Parlamento, aprovou o Ato de Supremacia, que estabelecia a criação de uma nova Igreja na Inglaterra, que foi denominada anglicana, na qual o rei era seu chefe supremo, e determinou o confisco de todos os bens e terras da Igreja católica. O anglicanismo manteve elementos cerimoniais do catolicismo (liturgia e sacramentos), porém sem reconhecer a hierarquia eclesiástica.

A consolidação da religião anglicana deu-se apenas no reinado de Elizabeth I (1558-1603), filha de Henrique, que incorporou elementos calvinistas à doutrina anglicana.

A Contrarreforma

O movimento reformista avançava pela Europa e ameaçava o poder da Igreja católica, que durante séculos controlou a sociedade ocidental. Na busca por uma saída para a crise religiosa que se instalou em grande parte da Europa, a alta hierarquia católica adotou um posicionamento coeso, fundamentado e vigoroso em relação às novas religiões.

Durante o Concílio de Trento (1545-1563), convocado pelo papa Paulo III, foram reafirmados alguns princípios católicos:

• a salvação pela fé e pelas boas obras;

• o celibato clerical;

• os sete sacramentos (batismo, confissão, eucaristia, crisma,

matrimônio, ordens sagradas e unção dos enfermos);

• a indissolubilidade do casamento.

Além disso, outras medidas foram adotadas com a intenção de contrapor a expansão do protestantismo: a instauração do Santo Ofício, tribunais da Inquisição, criados em 1231, que tinham por objetivo interferir na sociedade católica, e o lndex librorum prohibitorum, lista de livros cuja leitura era proibida; nela estavam boa parte da literatura renascentista e obras dos líderes reformistas.



A Companhia de Jesus, fundada pelo padre espanhol Inácio de Loyola, teve, também, papel fundamental com sua ação em elucidar e propagar a fé católica e, ao mesmo tempo, combater a expansão protestante.


Nenhum comentário:

Postar um comentário