A Revolução Industrial
Denomina-se Revolução Industrial o processo de
transformações ocorridas inicialmente na Inglaterra, a partir da segunda metade
do século XVIII, que levaram à substituição da força de trabalho humana pela máquina
no sistema de produção.
Tal mudança no sistema produtivo trouxe uma série de
transformações: utilização da energia mecânica, formação do proletariado
industrial, surgimento das fábricas, migração da mão de obra para o meio urbano
e o consequente crescimento das cidades e ampliação da capacidade de produção
industrial.
Entretanto, para que tais mudanças se processassem, foram
necessárias algumas condições históricas.
Durante a Revolução Comercial, a partir do século XVII,
houve a ampliação dos mercados consumidores de manufaturados ingleses,
principalmente em colônias americanas, e além disso, tornou-se contínuo o fornecimento
de matérias-primas. Em consequência, algumas nações europeias passaram a
concentrar todos os recursos obtidos em seus impérios coloniais, gerando a
acumulação primitiva de capital que lhes garantiu os recursos necessários para
iniciar seus processos de industrialização.
O pioneirismo inglês
A partir de meados do século XVIII, a Inglaterra passou por
um processo que a transformou na primeira nação industrializada, a chamada
Oficina do Mundo, já que produzia os bens de consumo industriais para todo o
planeta. Vários fatores determinaram o pioneirismo inglês.
A Inglaterra foi a nação que mais
se beneficiou durante a Revolução Comercial, pois, além de acumular bens, os
ingleses formaram um grande império colonial. Além disso, a hegemonia naval que
a Inglaterra pas-ou a exercer a partir dos Atos de Navegação, transformando-se
em “senhora dos mares”, lhe deu condições de obter matéria-prima para suas
indústrias e estabelecer um promissor mercado consumidor.
A industrialização dependia também de uma grande quantidade de mão de obra disponível. A formação dessa massa de trabalhadores deu-se a partir da intensificação da Lei dos Cercamentos, entre os séculos XVI e XVII, por meio dos quais as antigas terras comunais do interior da Inglaterra foram convertidas pela nobreza em pastos para a criação de ovelhas em grande escala, provocando enorme êxodo rural. A população que chegava às cidades transformava-se em mão de obra barata para as indústrias nascentes; somam-se a isso as rigorosas leis inglesas, que aplicavam severas punições contra aqueles que não tivessem trabalho.
A Revolução Gloriosa, entre 1688 e 1689, foi outro fator que criou condições para que ocorresse a Revolução Industrial, na medida em que permitiu o acesso da classe burguesa ao poder, criando assim condições para o fortalecimento do liberalismo como princípio político e econômico do governo inglês, que garantiu a diminuição da intervenção estatal e a liberdade de iniciativa privada.
Além das condições acima descritas, também influenciaram o
pioneirismo industrial inglês a posição de isolamento geográfico da nação, que
diminuía a pressão externa de outros reinos, e suas reservas de ferro carvão,
além do dinamismo na invenção de novas máquinas e tecnologias.
O setor têxtil foi um dos primeiros a serem influenciados
pela Revolução Industrial. Máquinas de fiar que produziam uma quantidade de
fios maior e mais resistente foram tomando o lugar dos teares manuais.
A melhoria na produção de fios determinou a necessidade de
aperfeiçoamento do tear, o que ocorreu quando Edmund Cartwright, em 1785, fez
funcionar o tear mecânico. Com o tear mecânico era necessária uma nova fonte de
energia, daí a utilização da máquina a vapor, aperfeiçoada por James Watt em
1769.
A adaptação do motor a vapor ao tear mecânico criava a
necessidade de substituir os antigos teares de madeira por teares de ferro,
impulsionando a indústria siderúrgica. As fábricas espalhavam-se pela
Inglaterra e o algodão, a máquina a vapor e o ferro transformavam-se nos
símbolos de uma nova era tecnológica e econômica para a Inglaterra e
consequentemente para o mundo.
A questão social
O progresso industrial, entretanto,
contrastava com as condições miseráveis a que estava submetida a grande maioria
dos trabalhadores ingleses. O crescimento industrial fez aparecer o operário
proletário, cuja única fonte de renda era seu próprio trabalho.
A burguesia industrial submeteu
esse primeiro operariado a duríssimas condições de trabalho e de vida. A
jornada diária tinha duração que variava de 14 a 16 horas. Os salários eram
baixíssimos, devido principalmente à grande quantidade de desempregados à
espera de uma vaga. Mulheres e crianças eram submetidas a longas jornadas de
trabalho em condições precárias e com remuneração bem inferior à dos homens.
As duras condições de vida e
trabalho levaram a uma reação por parte dos operários e antigos artesãos, que
passaram a destruir as máquinas após a onda de desemprego causada pela
substituição de postos de trabalhos humanos por máquinas. Esse movimento ficou
conhecido como ludismo, devido a seu líder, Ned Ludd.
Aos poucos, os operários foram se
reorganizando em associações para apoio mútuo, dando mais tarde origem às trade
unions, os futuros sindicatos de trabalhadores.
As transformações
Com o avanço da Revolução
Industrial, a burguesia consolidou-se como camada social dominante nomundo
contemporâneo, ao mesmo tempo que o capitalismo se consolidava como principal
sistema econômico nesse contexto histórico. A busca por métodos eficazes que
dinamizassem a produção, barateassem os custos e aumentassem os lucros fez
surgir processos de produção em série, nos quais cada operário ficava responsável
pela execução de uma etapa da tarefa de fabricação de determinada mercadoria,
surgindo a divisão do trabalho. Ao longo do século XX, surgiram sistemas como o
fordismo, o taylorismo e o toyotismo.
A Revolução Industrial provocou
também o fenômeno da urbanização, levando ao crescimento acelerado dos centros
urbanos industriais. Entretanto, as péssimas condições de vida e os baixos
salários recebidos pelos trabalhadores urbanos geravam um clima de descontentamento
que favoreceu o nascimento de teorias e ideologias socioeconômicas como o
socialismo utópico, o socialismo científico, ou marxismo, e o anarquismo.
A necessidade crescente de
mercados consumidores, fontes de matéria-prima e áreas para aplicação de capitais
excedentes determinou o desenvolvimento do imperialismo, ou neocolonialismo a
partir do fim do século XIX. A Ásia e a África foram os principais alvos dessa
nova expansão capitalista por parte das nações industrializadas.
Para além da economia e dos avanços
tecnológicos, a Revolução Industrial inaugurou um novo momento na história
humana. O crescimento demográfico após a Revolução Industrial colocou em
evidência a questão populacional. O ideal de velocidade, promovido pela
produção industrial, alterou a concepção de tempo, transformando-se numa
exigência social que provocou profundas mudanças nas relações humanas. A
questão ambiental apresentou-se também como um desafio, na medida em que a
exploração dos recursos naturais trouxe a ameaça do esgotamento dessas
reservas, assim como soluções para o descarte dos resíduos resultantes do
processo de industrialização.
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