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domingo, 20 de junho de 2021

 A Primeira Guerra Mundial  (1914-1918)



Antecedentes

O desenvolvimento da economia capitalista, no final do século XIX, provocou uma corrida em busca de novas colônias, que lutavam por matéria-prima, mercado consumidor e mão de obra barata. Esse contexto, Pós-Segunda Revolução Industrial, causou grandes rivalidades entre as potências europeias. Alemanha e Itália entraram tarde na partilha de territórios coloniais, por estarem envolvidas em conflitos internos que culminaram em seus respectivos processos de unificação. Com o processo de unificação, a Alemanha transformou-se numa potência econômica e militar rompendo com o equilíbrio político que se mantinha no continente europeu desde o Congresso de Viena no início do século XIX.

Além das disputas territoriais e econômicas, o fortalecimento do sentimento nacionalista acrescentou mais um componente a essa combinação que levaria a Europa à guerra. Nesse clima de rivalidades, as potências procuraram se unir para somar forças e defender seus interesses por meio de uma complexa política de alianças. A Alemanha, em 1879, assinou um pacto com o império Austro-Húngaro, apoiando a pretensão deste sobre os Bálcãs. A Itália aderiu a esse pacto em 1882, quando a França invadiu a Tunísia, território africano cobiçado pelos italianos. Estava formada a Tríplice Aliança.

Deixando rivalidades históricas de lado, Inglaterra e França firmaram acordo para manter o equilíbrio de forças na Europa e pactuaram que, em caso de guerra, haveria ajuda mútua. Esse acordo ficou conhecido como Entente Cordiale (entente, ‘entendimento” em francês) (1904). A aproximação da França com a Inglaterra pode ser explicada pela derrota francesa na guerra Franco-Prussiana em 1870, em decorrência da qual os franceses foram obrigados a ceder à Alemanha os territórios Alsácia-Lorena, além de pagar uma pesada indenização. Esse cenário originou um sentimento revanchista antigermânico entre os franceses.

Derrotada na guerra Russo-Japonesa, a Rússia estava cada vez mais dependente dos capitais inglês e francês. De outro lado, a Alemanha tinha grandes pretensões no Leste Europeu. O czar russo buscou, então, unir forças com a Inglaterra e a França, nascendo, a partir desta aliança, a Tríplice Entente.

As alianças estabelecidas entre as principais nações europeias nesse período fundamentavam-se mais em interesses particulares e inimizades comuns do que em afinidades entre elas. Com isso o clima de tensão na Europa se intensificou, com a Tríplice Aliança e a Tríplice Entente procurando aumentar suas respectivas áreas de influência.




Esse clima de tensão e disputas deu origem ao conceito de  Paz Armada, período em que houve uma forte corrida armamentista, marcada por grande investimento em tecnologias bélicas e ampliação das forças armadas dos diversos países europeus, ao mesmo tempo em que, contraditoriamente, promoviam conferências para discutir políticas voltadas para evitar conflitos.
Depois de terem estabelecido um acordo de paz para colocar fim a uma crise no Marrocos (na África), em que França e Alemanha por muito pouco não iniciaram um conflito armado, as atenções das potências europeias voltaram-se para a região dos Bálcãs.
O movimento nacionalista sérvio lutava pelo pan-eslavismo, ou seja, pela união dos povos eslavos na região, no que era apoiado pelos russos. Os eslavos são uma etnia de origem indo-europeia que se estabeleceu na Europa oriental desde o século V, dando origem a vários povos: russos, croatas, eslovenos, eslovacos, tchecos, sérvios, poloneses, ucranianos, bielo-russos, entre outros.
O Império Austro-Húngaro, porém, tinha pretensões imperialistas na Península Balcânica e, em 1908, anexou a região da Bósnia-Herzegovina. Contrariando os interesses dos sérvios, que lutavam pela criação da Grande Sérvia, a ocupação levou à reação dos movimentos nacionalistas.
O estopim da Primeira Guerra Mundial foi o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, e de sua mulher, num atentado em Sarajevo, capital da Bósnia,
em 28 de junho de 1914. O autor do assassinato foi o estudante Gavrilo Princip, ligado a um grupo secreto nacionalista apoiado pelo governo sérvio.



A Áustria-Hungria deu um ultimato aos sérvios com medidas austeras e sem margem de negociação. Quando o ultimato não foi cumprido e o território sérvio invadido, a Rússia ficou do lado dos sérvios. Seguiu-se uma verdadeira reação em cadeia envolvendo as alianças estabelecidas entre as potências europeias pré-guerra e, a partir daí, uma série de acontecimentos que levaram à Primeira Guerra Mundial.
Apoiando a Sérvia, a Rússia mobilizou seus exércitos contra a Áustria-Hungria, que era apoiada pela Alemanha. A Alemanha, então, declarou guerra à Rússia e depois à França. Para dominar a França, os exércitos alemão e austríaco invadiram a Bélgica, país neutro. A invasão da Bélgica serviu de pretexto para a Inglaterra declarar guerra à Alemanha. Era o início da Primeira

O conflito
Em que pensam estes jovens que embarcam, aparentemente alegres, em uma guerra que, conforme todos dizem, será curta! Estes meninos entregues a jogos cuja crueldade ainda não conhecem! Estas mulheres, jovens, ou não, que agitam seus lenços, todas tomadas pela expressão necessária de um patriotismo com o qual não atinam! Que lenços, que amores são rompidos!
Que esperanças estilhaçadas ou oferecidas! Que passado! E que futuro! Vidas miúdas, semelhantes e diferentes, por um instante convergem e se confundem em um só corpo que o movimento da história arrebata.Uma estação, um trem: modernas figurações do destino.
PERROT, Michelle. Hist—ria da vida privada: da Revolução Francesa à Primeira Guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.

A guerra desenvolveu-se em três frentes de batalha: a frente ocidental, onde os alemães combatiam os ingleses, franceses e belgas; a frente oriental, onde os alemães combatiam os russos; e a frente dos Bálcãs, onde os austro-húngaros lutavam contra os sérvios.
Na primeira fase da guerra, chamada de guerra de movimento, o exército alemão marchou em direção a Paris, mas o avanço russo sobre a Alemanha provocou a divisão nas tropas alemãs. Dessa forma, França e Inglaterra detiveram o avanço alemão. Começava a segunda fase da guerra, conhecida como guerra de trincheiras, em que cada um dos lados lutava para manter suas posições, evitando o avanço do oponente. Essa fase da guerra, entre 1914 e 1917, foi marcada por combates violentos, sem que os exércitos conseguissem obter avanços territoriais significativos.



À medida que a guerra avançava, outros países entraram no conflito ao lado da Tríplice Entente: Japão Anotações (buscando consolidar-se como potência no continente asiático), Grécia, Romênia e Itália, antiga participante da Tríplice Aliança que optou pela neutralidade no início, mas que mudou de lado depois de algumas promessas e recompensas territoriais. Esse bloco passou a ser chamado de Aliados. Alinhados à Alemanha e à Áustria--Hungria estavam a Turquia e a Bulgária, e o bloco passou a ser chamado de Potências Centrais.

Paralelamente aos combates em terra, desenvolvia-se outra frente violenta de combates: a guerra marítima. As marinhas de guerra de Inglaterra e Alemanha enfrentavam-se e, ao mesmo tempo, promoviam bloqueios mútuos de fronteiras, afetando o comércio internacional. A utilização de submarinos obrigou a modificações profundas nas estratégias da guerra em alto-mar. Ao mesmo tempo a aviação militar começava a ser utilizada para observação e lançamento de bombas.
O ano de 1917 foi determinante para o desfecho do conflito, pois alguns acontecimentos provocaram mudanças significativas no quadro geral da guerra. A Rússia mergulhou num processo revolucionário que fez com que sua participação ficasse comprometida, culminando com sua saída do conflito em 1918.
Os Estados Unidos, apesar de inicialmente declararem-se neutros, mantiveram relações comerciais muito próximas com Inglaterra e França e se envolveram financeiramente no conflito. Em 1917, com o afundamento de navios norte-americanos pela marinha alemã alegando que transportavam alimentos e armas para o inimigo, os Estados Unidos entraram na guerra. Seu poio material e financeiro foi decisivo
para a confirmação da vitória dos Aliados e seus apoiadores.
No final de 1918, a Alemanha, isolada e sem condições de sustentar a guerra, passou por sérias crises internas que culminaram com a deposição do imperador.

O Brasil na Primeira Guerra

Apesar dos entraves comerciais com a Europa em guerra, o Brasil foi favorecido por sua neutralidade no início da guerra, pois exportava matérias-primas para os países de ambos os lados do conflito.
O país viveu também um início de surto industrial graças à conversão das indústrias das nações em
guerra em indústrias bélicas.
Em 1917, porém, os alemães atacaram e afundaram navios brasileiros. Sob a presidência de Venceslau Brás, o Brasil rompeu relações com a Alemanha, apreendeu 46 navios alemães que estavam em portos brasileiros e aliou-se aos Estados Unidos e aos Aliados com uma missão naval e um corpo médico.
O Brasil foi o único país da América do Sul a entrar no conflito, o que lhe garantiu a participação na
Conferência de Versalhes.

O Tratado de Versalhes

Após a queda da Alemanha, os países vencedores – liderados pelos Estados Unidos, França e Inglaterra realizaram, no Palácio de Versalhes, na França, uma série de conferências com o intuito de estabelecer diretrizes após o final da guerra. Esses acordos resultaram em diversos tratados de paz, entre os quais um dos mais importantes foi o Tratado de Versalhes, o qual estabeleceu os termos da paz com a Alemanha e determinou ma série de punições a esse país, por considerá-lo culpado pela guerra. Entre elas estavam:
• devolver a região da Alsácia-Lorena à França;
• entregar quase todos os seus navios mercantes à Inglaterra, à França e à Bélgica;
• ceder regiões à Bélgica, à Dinamarca e à Polônia;
• pagar pesada indenização em dinheiro aos países vencedores;
• reduzir seu exército a cem mil soldados;
• eliminar sua força aérea.
Não é necessário entrar em detalhes da história do entreguerras para ver que o acordo de Versalhes não podia ser a base de uma paz estável. Estava condenado desde o início e, portanto, outra guerra era praticamente certa. [...] os EUA quase imediatamente se retiraram e [...] nenhum acordo não endossado pelo que era agora uma grande potência mundial [...]
podia se sustentar.
Como veremos, isto se aplicava tanto às questões econômicas do mundo quanto à sua política.
HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. (Adaptado.)
Ainda na Conferência de Versalhes, o presidente norte-americano Woodrow Wilson propôs a criação de um organismo que intermediaria conflitos internacionais e preservaria a paz mundial. Essa instituição recebeu  nome de Liga das Nações, porém sua atuação foi muito limitada, uma vez que não recebeu o apoio necessário das principais nações para se consolidar como organização capaz de mediar conflitos.
Outros tratados assinados com os Aliados da Alemanha resultaram na fragmentação dos impérios existentes antes do conflito, dando origem a várias nações.

A Primeira Guerra mergulhou a Europa em uma crise que se estenderia até a Segunda Guerra Mundial.
Apenas os países que se mantiveram mais distantes do palco principal do conflito puderam obter vantagens econômicas e financeiras, como Japão e Estados Unidos. Ela também marcou a ascensão dos Estados Unidos, que passaram à condição de maior potência mundial. Ao mesmo tempo, os efeitos da guerra favoreceram a ascensão de partidos radicais que propunham a violência como forma de atuação política, como o fascismo, na Itália, e o nazismo, na Alemanha.

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