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segunda-feira, 28 de junho de 2021

Revolução Russa



A Revolução Russa de 1917

Antecedentes

A partir da segunda metade do século XIX, a Rússia, uma monarquia de estrutura agrária e relações feudais, iniciou sua industrialização com base em financiamento externo, principalmente com capital proveniente da França e da Inglaterra. As mudanças decorrentes desse processo só agravaram as graves contradições sociais já existentes na região.

Na Rússia o poder concentrava-se nas mãos do czar (título atribuído ao imperador russo desde o século XVI). Apoiado pela aristocracia agrária e pela Igreja Ortodoxa Russa, seu poder era inquestionável, mas, com o aumento dos problemas sociais e das desigualdades, surgiram grupos de oposição que passaram a lutar pela limitação do poder e até pela queda do czarismo.


  Entre 1855 e 1881, a Rússia foi governada pelo czar Alexandre II, que aboliu as relações de servidão entre camponeses e nobres proprietários de terra. Ele morreu assassinado por radicais anarquistas que lutavam contra a ordem estabelecida. Seu sucessor, Alexandre III (1881-1894), intensificou a industrialização no país, porém, passou a perseguir os oposicionistas com sua polícia política – a Okhrana. Houve grande repressão: muitos foram presos, banidos, deportados e até enforcados.

O último dos czares russos foi Nicolau II (1894-1917), que continuou a industrialização do país, mas não pôde conter a crescente oposição ao seu governo. Em 1898 surgiu o Partido Operário Social-Democrata Russo, inspirado no marxismo e composto de intelectuais e elementos do operariado russo. Em razão da repressão czarista, muitos dos membros tiveram que fugir para o exterior.

 Duas teses foram debatidas: a primeira defendia a ideia de que a sociedade socialista se faria pela evolução política gradual, de acordo com a ortodoxia marxista, e a segunda defendia a derrubada imediata do czarismo por meio da insurgência revolucionária contra o czarismo. Os bolcheviques (maioria), liderados por Ivan Ilitch Ulianov (Lenin), passaram a defender a tese revolucionária, e os mencheviques (minoria), liderados por Julius Martov e Georgi Plekhanov, passaram a defender a tese gradual.

 




Assim como as outras potências europeias, a Rússia envolvia-se na expansão imperialista. Investimentos estrangeiros entravam no império czarista, e o país procurava ampliar sua influência na Ásia e nos Bálcãs. Porém, esse possível crescimento econômico foi detido com a derrota na Guerra Russo-Japonesa (1904-1905), provocada pelas disputas em busca do controle de pontos estratégicos no Extremo Oriente.

A Rússia, tradicional e atrasada, não resistiu à força do Japão que se modernizara na Era Meji.

O fracasso na guerra contra o Japão possibilitou o crescimento da oposição e marcou o início de várias manifestações contra o regime czarista, reivindicando a convocação de uma assembleia constituinte e melhores condições de vida. No dia 22 de janeiro de 1905, uma grande manifestação popular ocorreu na cidade de São Petersburgo (mais tarde Petrogrado, depois Leningrado e hoje novamente São Petersburgo) e foi violentamente reprimida. Esse episódio ficou conhecido como Domingo Sangrento.


 

A partir daí, uma onda de protestos se alastrou pela Rússia, resultando em uma greve geral de operários, soldados e marinheiros. Nas principais cidades russas surgiam os primeiros sovietes, conselhos locais compostos de operários e soldados (posteriormente, também camponeses) que reivindicavam a participação nas decisões políticas e administrativas.

Um dos episódios marcantes da Revolução de 1905, na Rússia, foi a revolta dos marinheiros do navio de guerra Potemkin, que se transformou num clássico do cinema, O encouraçado Potemkin, de 1925, dirigido por Sergei Eisenstein. Em preto e branco e mudo, várias de suas cenas são consideradas determinantes para que o cinema passasse a ser considerado arte.


 

Diante das pressões, Nicolau II resolveu adotar medidas para conter os revoltosos. Prometeu a promulgação de uma Constituição, que seria elaborada por meio de um parlamento (Duma). Apesar de cumprir sua palavra, o czar acabou por dissolver a Duma, substituindo-a por outra de caráter censitário (ou seja, membros escolhidos pela renda) e, aos poucos, voltou a concentrar o poder em suas mãos, além de manter a repressão aos opositores.

No conturbado cenário que antecedeu a Primeira Guerra Mundial, a Rússia compunha a Tríplice Entente, aliada da Inglaterra e da França, parceiros políticos e econômicos. A partir de 1914, a guerra causou grandes problemas ao país, pois a indústria entrou em crise e os camponeses diminuíram a produção agrícola. Os preços subiram e grande parte da população não tinha acesso a alimentos; como consequência da crise, as greves aumentaram.

Dentro do Partido Social-Democrata (socialista) a divisão política ideológica se aprofundava com a guerra. Parte dos mencheviques não aceitava que a Rússia saísse derrotada da guerra. Os bolcheviques e os anarquistas eram totalmente contrários à participação russa na guerra, entre eles Lenin, Leon Trotsky e Julius Martov.

A partir de 1916, a situação política do czarismo agravou-se ainda mais. No final desse ano, o exército russo tentou uma última ofensiva contra os alemães, que resultou em total fracasso. Os alimentos se tornavam cada vez mais escassos, as greves eram constantes e passava-se a exigir o fim do governo, melhorias trabalhistas e a saída da guerra.

1917 – O ano das revoluções

No início de 1917, a situação na Rússia era incontrolável. Greves e protestos se espalhavam por todo o país e, no dia 26 de fevereiro, soldados foram forçados a atirar contra manifestantes trabalhadores, matando dezenas deles; na mesma noite, porém, os soldados se uniram aos rebeldes.

Os sovietes passaram a coordenar a luta contra o czarismo. Em Petrogrado, um dos sovietes de maior força era comandado por mencheviques. A Duma formou um governo provisório. Os generais do czar tentaram impedir o avanço da revolução. As forças repressoras também não reconheciam o poder do czar e só obedeciam aos sovietes. A monarquia na Rússia terminou no dia 27 de fevereiro de 1917.

Um governo provisório foi formado sob a liderança do príncipe Lvov, de tendência moderada, mas que sofria a influência direta de Alexander Kerensky com a participação de mencheviques. Em julho, após a renúncia de Lvov, Kerensky assumiu o governo. Por sua tendência liberal e por apostar no fim não muito distante da Primeira Guerra, o governo menchevique decidiu manter o país no conflito.

Em abril, devido a uma anistia política implementada pelo governo menchevique, começaram a chegar políticos exilados, entre os quais os bolcheviques Lenin e Trotsky. Lenin assumiu a liderança do Partido Bolchevique e lançou as Teses de Abril com o lema “Paz, Terra e Pão”, nas quais propunha:

Transferência do poder para os sovietes;

Nacionalização dos bancos;

 Saída imediata da guerra;

 Reforma agrária;

 Instalação de um governo socialista.    

 

Trotsky recrutava combatentes, entre eles, operários e os soldados dos sovietes, para formar uma milícia revolucionária, que ficaria conhecida como Exército Vermelho.

Os sovietes passaram para o comando dos bolcheviques. Em 7 de novembro de 1917 (25 de outubro no calendário juliano), os bolcheviques tomaram o poder, atacaram o Palácio de Inverno em Petrogrado e provocaram a fuga de Kerensky.

 

O governo de Lenin (1917-1924)


 

Com a derrubada do governo menchevique, foi criado o Conselho dos Comissários do Povo, presidido por Lenin. Era o primeiro governo efetivamente socialista da História. Imediatamente, iniciaram-se as negociações para a saída da Rússia da Primeira Guerra. No dia 3 de março de 1918, foi assinado o Tratado de Brest--Litovsk com a Alemanha, que provocou grandes perdas de poder político e territórios aos russos.

Outras medidas foram adotadas: nacionalização dos bancos, fábricas e ferrovias, distribuição de terras aos camponeses e controle dos operários sobre as fábricas. Antigos partidários do czarismo, liberais, mencheviques organizaram uma contrarrevolução. Formaram o Exército Branco, composto essencialmente de conservadores, oficiais monarquistas e tropas de países aliados, iniciando uma guerra civil. Inglaterra, França, Estados Unidos e Japão apoiaram os contrarrevolucionários tentando conter o avanço da revolução.

Durante a guerra civil, tentando amenizar os problemas com o conflito e garantir a manutenção do Exército Vermelho, o governo adotou uma política econômica denominada “comunismo de guerra”, que previa o confisco da produção fabril e agrícola para combater a miséria que se alastrava pelo país.

Sob o comando de Trotsky, o Exército Vermelho venceu os Brancos e as tropas estrangeiras no começo de 1921. A guerra civil estava terminada, e a revolução socialista saía vitoriosa. Com a economia abalada por uma sequência de guerras, Lenin implantou a Nova Política Econômica (NEP), um planejamento econômico que mesclava princípios socialistas com elementos capitalistas. Abriu o país a investimentos estrangeiros, porém sob controle do Estado. Os camponeses podiam comercializar seus produtos livremente, os artesãos e pequenos empresários receberam incentivos e a economia voltou a crescer. Lenin definiu sua política econômica com uma famosa frase: “um passo atrás para dar dois à frente”.

Em 1922, Josef Stalin foi nomeado secretário-geral do Partido Comunista, com a intenção de combater as oposições e nomear pessoas de confiança para os mais altos cargos do governo. Naquele mesmo ano, foi criada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Com a morte de Lenin em 1924, o poder passou a ser disputado por Stalin e por Trotsky, chefe do Exército. Trotsky defendia a tese da “revolução permanente”, isto é, que a revolução socialista se expandisse para outros países; já para Stalin o socialismo deveria se consolidar primeiramente na União Soviética para depois se expandir: era o “socialismo num país só”.

O governo de Stalin (1927-1953)


 

Vitorioso em sua disputa com Trotsky, Stalin estabeleceu uma ditadura rigorosa na União Soviética. Aos poucos foi marginalizando seus opositores, até eliminá-los. Trotsky foi expulso da União Soviética e exilou-se no México, onde foi assassinado, em 1940, por um agente enviado por Stalin.

Com violência e repressão, o governo stalinista expulsou e executou todos os seus opositores dentro do partido por meio de julgamentos conhecidos como “expurgos”. Perseguiu cidadãos, que eram executados ou enviados para prisões em regiões remotas, como a Sibéria, onde eram submetidos a maus-tratos e a trabalhos forçados.

No plano econômico, o órgão responsável pelo planejamento econômico (Gosplan) propôs o fim da NEP e a adoção de Planos Quinquenais, que eram diretrizes essenciais para a economia russa que buscavam o crescimento econômico soviético. O primeiro plano (1928-1933) tinha a intenção de aumentar a produção de maneira global, atingindo de forma direta a industrialização, principalmente a indústria de base. A agricultura foi coletivizada com a criação dos sovkhozes, fazendas estatais, e dos kolkhozes, fazendas cooperativas. O segundo plano (1933-1938) já se apoiava nas conquistas do primeiro e, com o crescimento industrial, o objetivo passou a ser acelerar o desenvolvimento.

Em 1938, foi adotado o Terceiro Plano Quinquenal, que visava desenvolver a indústria especializada, como a química, porém, foi interrompido pela eclosão da Segunda Guerra Mundial.


sexta-feira, 25 de junho de 2021

 

A Revolução Industrial

Denomina-se Revolução Industrial o processo de transformações ocorridas inicialmente na Inglaterra, a partir da segunda metade do século XVIII, que levaram à substituição da força de trabalho humana pela máquina no sistema de produção.

Tal mudança no sistema produtivo trouxe uma série de transformações: utilização da energia mecânica, formação do proletariado industrial, surgimento das fábricas, migração da mão de obra para o meio urbano e o consequente crescimento das cidades e ampliação da capacidade de produção industrial.



Entretanto, para que tais mudanças se processassem, foram necessárias algumas condições históricas.

Durante a Revolução Comercial, a partir do século XVII, houve a ampliação dos mercados consumidores de manufaturados ingleses, principalmente em colônias americanas, e além disso, tornou-se contínuo o fornecimento de matérias-primas. Em consequência, algumas nações europeias passaram a concentrar todos os recursos obtidos em seus impérios coloniais, gerando a acumulação primitiva de capital que lhes garantiu os recursos necessários para iniciar seus processos de industrialização.

 

O pioneirismo inglês

A partir de meados do século XVIII, a Inglaterra passou por um processo que a transformou na primeira nação industrializada, a chamada Oficina do Mundo, já que produzia os bens de consumo industriais para todo o planeta. Vários fatores determinaram o pioneirismo inglês.

A Inglaterra foi a nação que mais se beneficiou durante a Revolução Comercial, pois, além de acumular bens, os ingleses formaram um grande império colonial. Além disso, a hegemonia naval que a Inglaterra pas-ou a exercer a partir dos Atos de Navegação, transformando-se em “senhora dos mares”, lhe deu condições de obter matéria-prima para suas indústrias e estabelecer um promissor mercado consumidor.

A industrialização dependia também de uma grande quantidade de mão de obra disponível. A formação dessa massa de trabalhadores deu-se a partir da intensificação da Lei dos Cercamentos, entre os séculos XVI e XVII, por meio dos quais as antigas terras comunais do interior da Inglaterra foram convertidas pela nobreza em pastos para a criação de ovelhas em grande escala, provocando enorme êxodo rural. A população que chegava às cidades transformava-se em mão de obra barata para as indústrias nascentes; somam-se a isso as rigorosas leis inglesas, que aplicavam severas punições contra aqueles que não tivessem trabalho.

A Revolução Gloriosa, entre 1688 e 1689, foi outro fator que criou condições para que ocorresse a Revolução Industrial, na medida em que permitiu o acesso da classe burguesa ao poder, criando assim condições para o fortalecimento do liberalismo como princípio político e econômico do governo inglês, que garantiu a diminuição da intervenção estatal e a liberdade de iniciativa privada.

Além das condições acima descritas, também influenciaram o pioneirismo industrial inglês a posição de isolamento geográfico da nação, que diminuía a pressão externa de outros reinos, e suas reservas de ferro carvão, além do dinamismo na invenção de novas máquinas e tecnologias.

O setor têxtil foi um dos primeiros a serem influenciados pela Revolução Industrial. Máquinas de fiar que produziam uma quantidade de fios maior e mais resistente foram tomando o lugar dos teares manuais.

A melhoria na produção de fios determinou a necessidade de aperfeiçoamento do tear, o que ocorreu quando Edmund Cartwright, em 1785, fez funcionar o tear mecânico. Com o tear mecânico era necessária uma nova fonte de energia, daí a utilização da máquina a vapor, aperfeiçoada por James Watt em 1769.



A adaptação do motor a vapor ao tear mecânico criava a necessidade de substituir os antigos teares de madeira por teares de ferro, impulsionando a indústria siderúrgica. As fábricas espalhavam-se pela Inglaterra e o algodão, a máquina a vapor e o ferro transformavam-se nos símbolos de uma nova era tecnológica e econômica para a Inglaterra e consequentemente para o mundo.

A questão social

O progresso industrial, entretanto, contrastava com as condições miseráveis a que estava submetida a grande maioria dos trabalhadores ingleses. O crescimento industrial fez aparecer o operário proletário, cuja única fonte de renda era seu próprio trabalho.

A burguesia industrial submeteu esse primeiro operariado a duríssimas condições de trabalho e de vida. A jornada diária tinha duração que variava de 14 a 16 horas. Os salários eram baixíssimos, devido principalmente à grande quantidade de desempregados à espera de uma vaga. Mulheres e crianças eram submetidas a longas jornadas de trabalho em condições precárias e com remuneração bem inferior à dos homens.

As duras condições de vida e trabalho levaram a uma reação por parte dos operários e antigos artesãos, que passaram a destruir as máquinas após a onda de desemprego causada pela substituição de postos de trabalhos humanos por máquinas. Esse movimento ficou conhecido como ludismo, devido a seu líder, Ned Ludd.

Aos poucos, os operários foram se reorganizando em associações para apoio mútuo, dando mais tarde origem às trade unions, os futuros sindicatos de trabalhadores.

As transformações

Com o avanço da Revolução Industrial, a burguesia consolidou-se como camada social dominante nomundo contemporâneo, ao mesmo tempo que o capitalismo se consolidava como principal sistema econômico nesse contexto histórico. A busca por métodos eficazes que dinamizassem a produção, barateassem os custos e aumentassem os lucros fez surgir processos de produção em série, nos quais cada operário ficava responsável pela execução de uma etapa da tarefa de fabricação de determinada mercadoria, surgindo a divisão do trabalho. Ao longo do século XX, surgiram sistemas como o fordismo, o taylorismo e o toyotismo.

A Revolução Industrial provocou também o fenômeno da urbanização, levando ao crescimento acelerado dos centros urbanos industriais. Entretanto, as péssimas condições de vida e os baixos salários recebidos pelos trabalhadores urbanos geravam um clima de descontentamento que favoreceu o nascimento de teorias e ideologias socioeconômicas como o socialismo utópico, o socialismo científico, ou marxismo, e o anarquismo.

A necessidade crescente de mercados consumidores, fontes de matéria-prima e áreas para aplicação de capitais excedentes determinou o desenvolvimento do imperialismo, ou neocolonialismo a partir do fim do século XIX. A Ásia e a África foram os principais alvos dessa nova expansão capitalista por parte das nações industrializadas.

Para além da economia e dos avanços tecnológicos, a Revolução Industrial inaugurou um novo momento na história humana. O crescimento demográfico após a Revolução Industrial colocou em evidência a questão populacional. O ideal de velocidade, promovido pela produção industrial, alterou a concepção de tempo, transformando-se numa exigência social que provocou profundas mudanças nas relações humanas. A questão ambiental apresentou-se também como um desafio, na medida em que a exploração dos recursos naturais trouxe a ameaça do esgotamento dessas reservas, assim como soluções para o descarte dos resíduos resultantes do processo de industrialização.

quinta-feira, 24 de junho de 2021

 

Populismo no Brasil

Contexto histórico

Os brasileiros que viveram a década de 1940 atravessaram mudanças políticas, econômicas, sociais e culturais no mundo e no Brasil. No contexto mundial, enfrentaram a bipolarização de duas grandes potências: uma liderando os países capitalistas, os Estados Unidos, e outra liderando os países comunistas, a URSS.



Já no Brasil, antes da deposição de Vargas do cargo de presidente, houve certo relaxamento contra os comunistas, considerando-se que essas tensões ameaçavam a continuidade do Estado Novo, inclusive com o perdão das penas e a soltura de alguns presos, caso, por exemplo, de Luís Carlos Prestes.

Ainda no contexto da Guerra Fria, o Brasil,  atrás de recursos financeiros e novos investimentos, aproximava-se cada vez mais dos Estados Unidos, passando a aderir à política econômica desse país com maior ênfase. Além disso, a demanda dos produtos industrializados estadunidenses fascinava a população brasileira, principalmente, a de classe média, o que fazia aumentar o consumo de produtos importados.

No entanto, o crescimento econômico brasileiro do final da década de 1940 e na década de 1950 não era sustentável, e o país passou a ficar cada vez mais dependente do capital estrangeiro. Com isso, a dívida externa do Brasil aumentou rapidamente e o crescimento não atingiu todas as classes, o que ampliou os contrastes sociais já existentes.

Um fato que merece destaque foi o retorno dos brasileiros às eleições presidenciais. No final de 1945, após 15 anos de governo varguista, os brasileiros puderam voltar às urnas e escolher o presidente e os demais parlamentares que conduziriam o país dali para a frente.



Eleições de 1945

Durante a campanha eleitoral de 1945, Eurico Gaspar Dutra, candidato pelo PSD e em coligação com PTB, general e Ex-ministro da Guerra do Brasil, aproximou-se de Getúlio Vargas e acabou recebendo seu apoio. Isso beneficiou Dutra, que foi eleito com mais da metade dos votos.

Era o início de um novo período na história da frágil democracia brasileira. Dutra e os demais eleitos formaram a Assembleia Nacional Constituinte e o primeiro desafio era construir uma nova Constituição para o Brasil.

Constituição de 1946

 


A Constituição de 1946 foi aprovada no dia 18 de setembro de 1946. De caráter em sua essência, reagiu ao autoritarismo do Estado Novo e às limitações políticas dele. Dessa forma, a Constituição passou a assegurar a liberdade de pensamento, de expressão e de associação, além de garantir a ampla defesa dos brasileiros diante da justiça.

A nova Constituição ainda determinava a autoridade dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário e o equilíbrio entre eles. Além disso, garantia as eleições diretas e obrigatórias para todos os postos do Executivo e do Legislativo nos planos federal, estadual e municipal.

Em relação à política do país, ficou determinado que o voto fosse obrigatório aos maiores de 18 anos. No entanto, excluiu soldados e cabos, considerados militares subalternos, e os analfabetos. Essa exclusão impactava profundamente a sociedade brasileira, já que grande parte da população era analfabeta devido às precárias políticas educacionais do período.

No mundo do trabalho, principalmente após a Greve dos 100 mil (veja abaixo, na legenda da foto), em São Paulo, o direito à greve foi reconhecido aos trabalhadores, porém de maneira bastante restritiva, já que a legislação classificava a maior parte das atividades exercidas pelos trabalhadores como “essenciais”. Dessa forma, na prática, quase toda paralisação continuou proibida.

terça-feira, 22 de junho de 2021

 A Reforma religiosa

O contexto

No início do século XVI, ca Igreja católica enfrentava uma crise interna. Parte do clero havia se distanciado dos princípios originais da fé cristã, como pobreza, humildade, auxílio aos mais necessitados, justiça, simplicidade, retidão, penitência, etc. A Igreja havia se voltado para a ostentação do luxo e do poder, mais preocupada com questões políticas e econômicas do que com questões espirituais.

Na Igreja disseminavam-se práticas como a simonia (venda de cargos eclesiásticos e de relíquias, em especial de objetos atribuídos a Jesus e aos santos), a venda de indulgências (pagamento pelo perdão dos pecados) e o comportamento desregrado de muitos membros do clero, que os afastavam dos preceitos religiosos e aproximava-os da vida mundana.



Além disso, alguns dogmas da Igreja representavam um obstáculo ao desenvolvimento das práticas mercantilistas, como a doutrina do “preço justo” e o pecado da usura. O “preço justo” estabelecia que o valor de uma mercadoria deveria ser a soma do custo da matéria-prima mais o valor da mão de obra, sem qualquer taxa de lucro. Da mesma forma considerava-se como pecado da usura a cobrança de juros sobre o valor de um empréstimo calculado sobre o tempo da quitação da dívida.

Entre os séculos XII e XV, com a formação das monarquias nacionais, cresceu entre os povos de uma mesma região um sentimento de unidade nacional. Esse sentimento colocava a autoridade papal em risco, pois a religião deixava, aos poucos, de representar o elemento de unidade dos povos europeus.


Os precursores da Reforma

Os anseios por reformas e as críticas aos desmandos da Igreja ocorriam desde o século XIV. Na Inglaterra, John Wycliffe, professor de Teologia em Oxford, criticava a conduta clerical de vender indulgências, questionava o acúmulo material da Igreja e pregava a ideia de que qualquer pessoa poderia se salvar se tivesse fé, pois a salvação viria de Deus.

O movimento iniciado por Wycliffe no século XIV não teve forças para abalar totalmente as estruturas da Igreja, porém chamou a atenção de outros clérigos que também estavam descontentes com a Igreja católica.

Na região da Boêmia, sul da atual Alemanha, Jan Huss, discípulo de John Wycliffe e professor da Universidade Carolina de Praga, pregava contra o luxo e a corrupção dentro do catolicismo. Por não se retratar, foi condenado por heresia no Concílio e Constança, preso e queimado vivo em 1415.

As críticas radicais contra o papado e as práticas irregulares da Igreja serviram de base para a Reforma protestante e as revisões da unidade católica no século XVI.

A Reforma luterana

Martinho Lutero, monge agostiniano, viveu na Alemanha na passagem do século XV para o XVI. Nessa época, a Alemanha fazia parte do Sacro Império Romano-Germânico.

Por estar fragmentado politicamente e ter forte influência da Igreja Católica, o território alemão era extremamente tributado pela Igreja e, por isso, os príncipes viviam descontentes com a interferência dos clérigos, o excesso de impostos e o acúmulo de territórios da Igreja na região. Era um contexto bastante propício à Reforma.

Em 1517, o papa Leão X decretou, por meio de uma bula, o aumento do valor das indulgências com o intuito de concluir a Basílica de São Pedro, no Vaticano. Tetzel, um frade dominicano, ficou encarregado da venda de indulgências na Alemanha.

Revoltado com a situação, Lutero formulou 95 teses contrapondo-se às indulgências, além de vários outros aspectos da fé católica, e as colou na porta da Igreja de Wittenberg.



Teses de Lutero contra indulgências

Entre as teses publicadas no documento de Martinho Lutero, estavam:

“21. Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que a pessoa é absolvida de toda

pena e salva pelas indulgências do papa. [...]

27. Pregam doutrina humana os que dizem que, tão logo tilintar a moeda lançada na caixa, a alma

sairá voando [do purgatório para o céu].[...]

36. Qualquer cristão verdadeiramente arrependido tem direito à remissão pela pena e culpa, mesmo

sem carta de indulgência.[...]

95 teses. Debate para o esclarecimento do valor das indulgências pelo doutor Martin Luther, 1517.

Disponível em: <www.luteranos.com.br/lutero/95_teses.html>. Acesso em: 12 jun. 2017.


Graças à imprensa, aprimorada por Gutenberg, as teses de Lutero se espalharam pela Europa, chegando a intelectuais e letrados da época.

Diante da repercussão das teses, o papa Leão X exigiu a imediata retratação de Lutero; o que não ocorreu. Novamente, em 1520, o papa ordenou, por meio de uma bula papal, a retratação, sob a pena de Lutero ser considerado herege. Diante da nova negativa, Lutero foi excomungado, mas conseguiu proteger-se com a ajuda de parte da nobreza germânica.

Carlos V, imperador do Sacro Império Romano-Germânico e católico fervoroso, convocou a Dieta de Worms, para julgar os atos de Lutero contra a Igreja Católica. Apesar do apoio de vários príncipes germânicos ao movimento reformista, Carlos V determinou a excomunhão de Lutero e o controle eclesiástico sobre a vida intelectual e religiosa de todos. Refugiado no castelo do príncipe Frederico da Saxônia, Lutero passou a trabalhar na tradução da Bíblia para o alemão.

Nesse ambiente de contestação, Thomas Müntzer, líder anabatista e seguidor radical das ideias luteranas, coordenou uma revolta de camponeses alemães, entre 1523 e 1525, reivindicando o fim da servidão camponesa, a liberdade de escolha dos líderes religiosos, o fim dos tributos e a divisão das terras pertencentes à Igreja. A nobreza, apoiada por Lutero e interessada na posse das terras clericais, reprimiu de forma violenta essa revolta.

Em 1529, em uma nova tentativa, Carlos V tentou submeter os príncipes reformistas na Dieta de Espira.

Estes, por sua vez, foram contra e passaram a ser denominados protestantes. No ano seguinte, os príncipes do Sacro Império se reuniram na cidade de Augsburgo na Dieta de Augsburgo, na qual o teólogo Philipp Melancthon, amigo pessoal de Lutero, apresentou os princípios fundamentais da doutrina luterana na chamada Confissão de Augsburgo:

• a salvação pela fé;

• sacerdócio universal dos fiéis;

• livre interpretação da Bíblia;

• culto celebrado na língua vernácula;

• apenas dois sacramentos reconhecidos: o batismo e a eucaristia.

A partir de 1530, o Sacro Império foi palco de uma guerra civil entre os príncipes protestantes e grupos leais ao catolicismo e ao imperador. Esse conflito durou 25 anos. Em 1555, nove anos após a morte de Lutero, o conflito entre o imperador Carlos V e os príncipes protestantes teve uma definição. Conhecido como Paz de Augsburgo, o tratado determinava que os príncipes teriam a liberdade para escolher a religião em seus territórios, cabendo aos súditos a obrigatoriedade de segui-la.

A Alemanha se dividiu entre católicos e protestantes. O catolicismo predominou no sul, e o luteranismo, no norte. Outros países do norte da Europa também aderiram ao luteranismo, como Dinamarca, Suécia e Noruega.

A Reforma calvinista

Na França, em meados do século XVI, o teólogo João Calvino passou a defender as ideias luteranas em Paris. Mas, perseguido, mudou-se para Genebra, na Suíça, local em que as novas ideias já haviam sido bem recebidas.

Em Genebra, Calvino tornou-se líder político e religioso. Durante seu governo, criou o Consistório, órgão que controlava a vida política, econômica e religiosa dos cidadãos. Eram proibidos o jogo a dinheiro, o luxo, as danças e o teatro. Era forte a defesa de uma vida ascética, isto é, desligada dos valores mundanos.



Em sua nova doutrina foram mantidos dois sacramentos (batismo e eucaristia); o culto resumia-se à leitura e interpretação da Bíblia, preces e cantos; e os pastores eram considerados simples fiéis responsáveis pelas preces. A doutrina calvinista defendia a predestinação, ou seja, a salvação do indivíduo dependia exclusivamente da vontade divina. Além disso, o calvinismo aceitava a ideia do lucro, contrapondo-se ao catolicismo, que associava tal prática à avareza e ao apego excessivo ao dinheiro.

O calvinismo difundiu-se por várias partes, sobretudo onde prosperavam as atividades econômicas e mercantis. Os huguenotes na França, os puritanos na Inglaterra, os presbiterianos na Escócia e os reformistas na Holanda eram todos calvinistas.

A Reforma anglicana

Na Inglaterra, desde o século XIV, os abusos cometidos pela Igreja católica estavam sendo expostos por figuras como o teólogo John Wycliffe. Porém, a reforma religiosa só ocorreu por uma insatisfação real.

Henrique VIII (1509-1547), monarca inglês, era um fiel defensor da Igreja de Roma. Porém, casado com Catarina de Aragão, princesa espanhola, estava insatisfeito por ela não lhe dar um filho homem para sucedê-lo no trono. Em 1529, Henrique VIII enviou ao papa Clemente VIl um pedido para anular seu casamento, pois planejava casar-se com Ana Bolena, sua amante.



Após a negativa do papa em atender-lhe a solicitação, Henrique VIII decidiu romper definitivamente com a Igreja católica para poder concretizar seus interesses.

Em 1534, Henrique VIII, apoiado pelo Parlamento, aprovou o Ato de Supremacia, que estabelecia a criação de uma nova Igreja na Inglaterra, que foi denominada anglicana, na qual o rei era seu chefe supremo, e determinou o confisco de todos os bens e terras da Igreja católica. O anglicanismo manteve elementos cerimoniais do catolicismo (liturgia e sacramentos), porém sem reconhecer a hierarquia eclesiástica.

A consolidação da religião anglicana deu-se apenas no reinado de Elizabeth I (1558-1603), filha de Henrique, que incorporou elementos calvinistas à doutrina anglicana.

A Contrarreforma

O movimento reformista avançava pela Europa e ameaçava o poder da Igreja católica, que durante séculos controlou a sociedade ocidental. Na busca por uma saída para a crise religiosa que se instalou em grande parte da Europa, a alta hierarquia católica adotou um posicionamento coeso, fundamentado e vigoroso em relação às novas religiões.

Durante o Concílio de Trento (1545-1563), convocado pelo papa Paulo III, foram reafirmados alguns princípios católicos:

• a salvação pela fé e pelas boas obras;

• o celibato clerical;

• os sete sacramentos (batismo, confissão, eucaristia, crisma,

matrimônio, ordens sagradas e unção dos enfermos);

• a indissolubilidade do casamento.

Além disso, outras medidas foram adotadas com a intenção de contrapor a expansão do protestantismo: a instauração do Santo Ofício, tribunais da Inquisição, criados em 1231, que tinham por objetivo interferir na sociedade católica, e o lndex librorum prohibitorum, lista de livros cuja leitura era proibida; nela estavam boa parte da literatura renascentista e obras dos líderes reformistas.



A Companhia de Jesus, fundada pelo padre espanhol Inácio de Loyola, teve, também, papel fundamental com sua ação em elucidar e propagar a fé católica e, ao mesmo tempo, combater a expansão protestante.


domingo, 20 de junho de 2021

 A Primeira Guerra Mundial  (1914-1918)



Antecedentes

O desenvolvimento da economia capitalista, no final do século XIX, provocou uma corrida em busca de novas colônias, que lutavam por matéria-prima, mercado consumidor e mão de obra barata. Esse contexto, Pós-Segunda Revolução Industrial, causou grandes rivalidades entre as potências europeias. Alemanha e Itália entraram tarde na partilha de territórios coloniais, por estarem envolvidas em conflitos internos que culminaram em seus respectivos processos de unificação. Com o processo de unificação, a Alemanha transformou-se numa potência econômica e militar rompendo com o equilíbrio político que se mantinha no continente europeu desde o Congresso de Viena no início do século XIX.

Além das disputas territoriais e econômicas, o fortalecimento do sentimento nacionalista acrescentou mais um componente a essa combinação que levaria a Europa à guerra. Nesse clima de rivalidades, as potências procuraram se unir para somar forças e defender seus interesses por meio de uma complexa política de alianças. A Alemanha, em 1879, assinou um pacto com o império Austro-Húngaro, apoiando a pretensão deste sobre os Bálcãs. A Itália aderiu a esse pacto em 1882, quando a França invadiu a Tunísia, território africano cobiçado pelos italianos. Estava formada a Tríplice Aliança.

Deixando rivalidades históricas de lado, Inglaterra e França firmaram acordo para manter o equilíbrio de forças na Europa e pactuaram que, em caso de guerra, haveria ajuda mútua. Esse acordo ficou conhecido como Entente Cordiale (entente, ‘entendimento” em francês) (1904). A aproximação da França com a Inglaterra pode ser explicada pela derrota francesa na guerra Franco-Prussiana em 1870, em decorrência da qual os franceses foram obrigados a ceder à Alemanha os territórios Alsácia-Lorena, além de pagar uma pesada indenização. Esse cenário originou um sentimento revanchista antigermânico entre os franceses.

Derrotada na guerra Russo-Japonesa, a Rússia estava cada vez mais dependente dos capitais inglês e francês. De outro lado, a Alemanha tinha grandes pretensões no Leste Europeu. O czar russo buscou, então, unir forças com a Inglaterra e a França, nascendo, a partir desta aliança, a Tríplice Entente.

As alianças estabelecidas entre as principais nações europeias nesse período fundamentavam-se mais em interesses particulares e inimizades comuns do que em afinidades entre elas. Com isso o clima de tensão na Europa se intensificou, com a Tríplice Aliança e a Tríplice Entente procurando aumentar suas respectivas áreas de influência.

sábado, 19 de junho de 2021

 O Iluminismo



As origens do Iluminismo

O pensamento iluminista teve suas origens nas teorias filosóficas, políticas e científicas de alguns pensadores dos séculos XVII e XVIII, entre eles:

• Galileu Galilei (1564-1642): é considerado o “pai da ciência moderna” e foi um dos responsáveis pelo de-senvolvimento do empirismo, método científico moderno utilizado nas pesquisas dos fenômenos naturais.

• René Descartes (1596-1650): é conhecido como o “pai do racionalismo moderno”. Em sua obra Discurso do método defendia a ideia de que a razão é o único caminho pelo qual se pode atingir o conhecimento.

A aplicação da razão estendia-se também à compreensão do Universo, que ele definia com base nos conceitos físicos e matemáticos.

• John Locke (1632-1704): pensador inglês e teórico do liberalismo político, se opôs ao Estado absolutista e defendeu a garantia dos direitos naturais dos seres humanos: vida, liberdade e propriedade. A função do Estado, segundo Locke, é garantir às pessoas esses direitos por meio de um conjunto de leis, a Constituição, que limita a interferência estatal na vida dos cidadãos e dá a eles condições de se defenderem. Seu pensamento político foi exposto na obra Segundo tratado do governo civil e inspirou os colonos norte-americanos em sua luta pela independência, bem como os revolucionários franceses no processo da Revolução Francesa, em 1789.

lsaac Newton (1643-1727): cientista, filósofo e teólogo inglês, revolucionou as ciências com suas teorias sobre as leis físicas que regem o Universo. Por meio de seus postulados físicos, Newton estabeleceu a concepção de um Universo regido por leis físicas imutáveis e, portanto, mecanicista.

Os princípios iluministas

Apesar de não formarem um corpo doutrinário único, as ideias iluministas apresentavam alguns pontos

em comum:

Racionalismo: a razão era tida como único guia capaz de conduzir ao conhecimento das coisas.

• Leis universais: o Universo passou a ser visto como uma máquina cujo funcionamento estava subme-

tido a leis naturais.

Anticlericalismo: os iluministas, ainda que alguns fossem ateus, se não negavam a existência divina,

negavam qualquer possibilidade de intervenção divina e dispensavam, assim, as práticas religiosas que

pediam uma intervenção de Deus na natureza.

Antiabsolutismo: os iluministas se opunham ao absolutismo por considerá-lo um sistema irracional, 

baseado em falsos argumentos religiosos e que violentava os direitos fundamentais do ser humano.


Os pensadores iluministas


Montesquieu (1689-1755), um dos mais destacados teóricos do Iluminismo, escreveu, em 1721, Cartas persas, obra na qual criticava os costumes e as instituições da França absolutista. Em O espírito das leis (1748) discorreu sobre as diversas formas de governo, defendendo a limitação dos poderes dos monarcas e a divisão de poderes no Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário).

François Marie Arouet (1694-1778), ou Voltaire, talvez tenha sido o mais conhecido iluminista de sua época. Com estilo sarcástico, desferia críticas constantes às religiões e ao absolutismo. Em Cartas inglesas enalteceu a monarquia parlamentar britânica. Tornou-se conselheiro de reis como Frederico II, da Prússia, e Catarina I, da Rússia.

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), nascido em Genebra, na Suíça, transformou-se no mais democrático pensador do Iluminismo. Valorizando muito mais a natureza do que a razão, Rousseau era um ardente defensor de que o ser humano é naturalmente bom, mas é corrompido pela sociedade, exaltando assim o contato com a natureza. Em Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens, atacou a propriedade privada como origem de todos os males da sociedade. Escreveu ainda O contrato social, em que defendeu o governo democrático baseado num contrato entre governante e governados em prol do bem comum, constituído por direitos e deveres recíprocos.

A grande obra deixada pelos iluministas foi a Enciclopédia, ou Dicionário razoado das ciências, das artes e dos ofícios, cuja composição foi orientada por Diderot e D’Alembert, com a colaboração de vários autores iluministas.

Apresentava inúmeros aspectos do conhecimento humano sob a ótica da ilustração. Apesar dos entraves que foram criados à sua publicação, a Enciclopédia transformou-se no principal veículo de difusão das ideias iluministas nos círculos intelectuais burgueses no século XVIII, levando à formação do ideário liberal.


O pensamento econômico

Além do debate político e social, o pensamento iluminista suscitou novas formulações econômicas em oposição ao mercantilismo, em sua natureza intervencionista. Uma delas foi a fisiocracia.

Os fisiocratas afirmavam que a economia, assim como a natureza, é regida por leis que independem de qualquer tipo de intervenção. Assim, concluíram que existem leis naturais na condução dos assuntos econômicos e, portanto, não deveria haver qualquer tipo de intervenção do Estado nesses assuntos.

Para os fisiocratas, a agricultura (diretamente ligada à natureza) era a principal atividade econômica daqual todas as outras dependiam. Os principais teóricos da fisiocracia foram Quesnay (1694-1774), Gournay (1712-1759) e Turgot (1727-1781), que lançaram a palavra de ordem dos liberais: laissez-faire, laissez-passer (deixai fazer, deixai passar).

No último quartel do século XVIII, o escocês Adam Smith (1723-1790) lançou as bases do liberalismo ecoômico em sua obra Investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações. Partindo do pensamento fisiocrata e de suas críticas ao mercantilismo, defendia a liberdade econômica e de mercado, o direito individual sobre a propriedade privada e a não intervenção do Estado. Discordava, porém, dos fisiocratas ao estabelecer que o trabalho humano era a fonte de riqueza por excelência.