Durante
muito tempo os meninos e meninas desenvolveram-se escutando as narrativas de
contos de fadas. A concepção que predomina é que essas narrações se perpetuam
no tempo, pois discutem assuntos globais. Distinto do que imaginamos, o conto
de fada tem um discurso ideológico, e grande parte das narrativas apresenta basicamente
uma moral. No exemplo aqui vou dar um enfoque na mulher e seu papel de
subjulgada, continuamente exposta nessas narrações como uma princesa fraca e inerte.
Tantos contos no qual a mulher necessita somente ansiar por ser salva, que se
realiza através de um príncipe influente.
É
importante enfatizar que os Contos de Fadas contemporâneos como Frozen
recuperam as antigas narrações de magias, bruxaria e com a presença da realeza.
Entretanto, em seu enredo, em alguns casos, não há a presença da luta entre o
bem e o mal, pois esta luta não é essencialmente resultado de atos de uma
personalidade ruim. A falta de vilões decisivos é uma inovação que altera o
modelo clássico.
Assim,
estamos observando atualmente adaptações de certas historias que já têm uma
moral mais modernizada. O ponto da transformação desse modelo veio com o filme
Frozen. Foi surpreendente ao assistir um conto de princesas, mas sob uma
perspectiva mais psicológizante e contemporânea.
Frozen
discorre a tragédia de Elsa, filha do rei de Arendelle, que tinha a magia de
controlar o frio e a neve. Quando garota, fere em um momento de descontração a
sua irmã Ana, com a magia. A partir daquele momento, a princesa é ensinada a
ocultar seus poderes, que ficam cada vez mais fortes, para que não ocorram
outros acidentes perigosos. As princesas são afastadas e o Castelo do rei é
fechado para o público. Porém, depois que seus pais morreram, Elsa é coroada se
transformando em rainha de seu país. É no momento que, de forma acidental, após
alguns eventos, ela demonstra seus poderes, ocasionando grande alvoroço entre
as pessoas da região. Assim sendo, Elsa torna-se uma fugitiva, mas deixa a
região com muita neve. Assim, a princesa Ana dá início a uma aventura para
achá-la e tentar desfazer a magia.
Certos
itens podemos destacar:
No
filme Frozen, Elsa e Anna são as princesas que protagonizaram a historia. Elsa, após a
morte de seus pais, foi coroada rainha no inicio do filme. Distinto dos contos clássicos,
na qual as princesas só se tornam rainhas após o matrimonio com um príncipe.
Aparecimento
frequente nas narrações de contos de fadas clássico: príncipe e princesa cheios
de paixões depois um simples contato. Em Frozen, essa paixão torna-se uma
sátira. Anna, a irmã de Elsa, procura descobrir o romantismo e no momento em
que sua irmã é coroada, se apaixona por Hans, um belo príncipe, que a pede para
se casar com ele. Elsa, agora rainha, reage
não aceitando que ela se case com alguém que acabou de conhecer.
O
sentimento que está presente, com outra figura dramática, é o sentimento de
convívio, ao estarem convivendo gradualmente e estabelecendo algo juntos. Mais interessante
também é observar Anna entre duas paixões, contudo não existe uma apreciação moralista
por ela estar entre dois amores simultaneamente.
Distinto
dos contos de fadas clássicos no qual a princesa é uma protagonista inerte sem
evolução, somente espera a oportunidade em que os acontecimentos se desenvolvem
a seu benefício, Frozen apresenta como tema essencial a evolução individual e maturidade
das protagonistas.
Elsa
tem a magia da criação e controle do gelo, todavia em momentos de aflição ela
perde o controle de seus poderes. No inicio do filme Ana é atingida
pela magia de Elsa, seus pais preferem ocultar seus poderes para não ferir
outras pessoas. Podemos entender os poderes de Elsa como seus receios e temores
que se manifestam inconscientemente e que ela procura reprimi-los e não compreendê-los.
A sua procura durante o conto é ou reprimindo, ou externando, no entanto sempre
se recolhendo de tudo, pois não consegue conviver com esta situação.
Anna
também tem um caminho particular a seguir: ferida no coração pela magia de
Elsa, ela deve se deparar com uma ação de amor verdadeiro para não sofrer o
congelamento por toda a vida. Inserida em um romantismo idealista espera que a
sua salvação esteja em um beijo de uma pessoa que a ame de verdade. Posteriormente
iremos observar que a ação deve partir da própria Ana e não de outra pessoa,
ela deve conseguir sua própria salvação, e não aspirar um príncipe encantado
para salvá-la.
Todo a história tem um grande vilão é desta forma que os
eventos acontecem, às vezes não há um herói empolgante, mas há um grande vilão,
pois tal vulto, ao menos nos contos de fadas, não pode deixar de ter, devido as
nossas ideias repletas de representações
presentes de dicotomias, a luta entre o bem e o mal. Em
Frozen não há feiticeiros(as) poderosos (as), ou rainhas malignas. O ponto
alto de tensão no drama é o confronto de Elsa e Anna, e delas consigo mesmas.
Os
vilões estão presentes na história, contudo não são motivações das grandes dificuldades
passadas pelas protagonistas. Elsa, para
conviver com sua magia, é guiada a reprimir seus sentimentos mais intensos. Assim,
o vilão do enredo está intrínseco na própria Elsa.
Anna
finda sua maldição e completa a magia do congelamento, no entanto ela consegue,
minutos antes, salvar a Irmã da morte. Sua atitude de amor verdadeiro se
efetiva. Assim, Ana salva a si próprio.
Em
presença dessa atitude, Elsa compreende que só encontrando-se perto do amor
fraterno, que pode estar em bem consigo
e com sua magia. Distintos dos contos clássicos, na qual a princesa se salva
por um príncipe encantado, elemento extrínseco; em Frozen, a salvação está na
esfera da pessoalidade, intrinsecamente.
Os Trolls, engraçados monstrinhos que possuem magia, teriam a função do
transcendental no enredo, o poder místico, também não são possuidores do poder
incondicional; permanecem continuamente, em formato pedras e vivem de uma forma
harmônica com quem busca ajuda, sem estabelecer terror, pois todas as pessoas
precisam de ajuda. Certamente, todas as pessoas precisam de ajuda e este é o
aspecto fundamental de Frozen juntamente com o “amor de verdade”, constituímos em indivíduos sem perfeição evoluindo constantemente.
O
interessante de Frozen são as protagonistas construindo suas subjetividades. Observamos no filme que o sentimento entre as irmãs, sem a vinculação do romantismo, de um
príncipe encantado salvador, corresponde um grande progresso em relação à
representação da mulher nos contos de fadas.
Frozen
não mostra simplesmente uma perspectiva mais modernizada do amor e da imagem da
mulher, é uma linda obra sobre conhecer a si mesmo, e de se colocar no lugar do
outro.