O
SIGNIFICADO DE CULTURA
Peterson Silva de Morais[1]
SANTOS,
José Luiz dos. O que é
Cultura. 16 ed. - São Paulo: Brasiliense, 2012. –
(Coleção primeiros passos; 110)
Os Mandarukus
Há muitas definições para a palavra
cultura. De um modo geral, fala-se cultura como um conhecimento a ser
adquirido, ou como conhecimento acumulado. Assim, diz-se que uma pessoa é
“culta” quando ela é muito bem informada, tem muitos conhecimentos, fez universidade,
pós-graduação. Um individuo nessas condições, segundo o senso comum, é uma
pessoa que tem “cultura”.
Para a antropologia, entretanto, o
conceito de cultura tem um significado diferente: “Cultura é uma dimensão do
processo social, da vida de uma sociedade. Não é apenas parte da vida social
(...)”. “Cultura é uma construção histórica, seja como concepção, seja
como dimensão do processo social.” (Santos, 2012, p.44).
A
aquisição e a perpetuação da cultura, portanto, é um processo social,
resultante da aprendizagem. Cada sociedade transmite às novas gerações o
patrimônio cultural que recebeu dos seus antepassados.
Cada sociedade elabora sua própria
cultura ao longo da história e recebe influencias de outras culturas. Todas as
sociedades, desde as simples até as mais complexas, tem sua própria cultura.
Segundo Santos (2012, p.45) “Se a cultura é dimensão do processo social, ela
deve ser entendida de modo a poder dar conta dessas particularidades”.
A
cultura pode ser definida também como um estilo de vida própria, um modo de
vida particular que todas as sociedades desenvolvem e que caracteriza cada uma
delas. Assim, os indivíduos que compartilham a mesma cultura apresentam uma
identidade cultural. É essa identidade cultural que faz com que a pessoa se
sinta pertencendo ao grupo, é por meio dela que se desenvolve o sentimento de
pertencimento a uma comunidade, a uma sociedade, a uma nação, a uma cultura.
Por
exemplo, as comunidades indígenas são realidades diferenciadas em relação à
sociedade dita “civilizada”. Como tal, são capazes de reproduzir regras, valores
e estilos próprios de organização. Os indivíduos que pertencem a elas
desenvolvem um forte sentimento de identidade cultural.
Atualmente, porém essas sociedades
indígenas acham interagindo constantemente com sociedade não indígena,
participando e partilhando dos mesmos processos sociais. Nesse processo,
segundo Santos (2012, p.46) “suas culturas mudam de conteúdo e de significado.”
(...).
O exemplo disto é o contato do povo
Manduruku, índios que vivem na região do Amazonas, Mato Grosso e Pará, com
frentes econômicas e instituições não indígenas. No momento em que os Munduruku
entraram em contato com práticas não indígenas muitas característica de sua
cultura se modificam.
Houve
alterações das aldeias tradicionais para as partes a beira dos rios, ampliando
pequenos núcleos populacionais, com certeza colaborou também para a dissipação
da habitação dos índios, item fundamental na aldeia tradicional e na
conservação de alguns seus rituais que estavam relacionados às praticas de
fornecimento de alimentos, repartidas entre o período da seca (abril a
setembro) e o período das chuvas (outubro a março). Entre estes rituais estava
o da “mãe do mato”, efetivado no começo do período das chuvas, com intuito de
conseguir autorização para as atividades de caça, proteção nos incursos pela
floresta e resultados positivos nas caças. Certos elementos destas ações ainda
estão atuais, ou foram recriados com novos significados, principalmente na
relação de consideração com os animais caçados, nas atividades diárias do índio
que caça e nos preceitos alimentares.
Conforme
Santos (2012, p.47) “é inevitável que incorporem novos conhecimentos para que
possam melhor resistir, que suas culturas se transformem para que as sociedades
sobrevivam.” Desta forma, se a cultura é um processo social, ela tem que ser
pensada como algo dinâmico em constante movimento.
O Carnaval é uma
fortíssima marca da cultura brasileira. Hoje virou mais “marca” do que
Carnaval, atraindo turistas, industrializando Escolas de Samba. O Carnaval
se contextualizou, assim como as fantasias. A liberdade e a globalização
trouxeram temas mundiais para o cenário carnavalesco. A criatividade e a
improvisação também se tornaram mais comuns e substituíram os antigos e
detalhados preparativos com as fantasias. Segundo Santos (2012, p.47), “Nada do
que é cultural pode ser estanque, porque a cultura faz parte de uma realidade
onde a mudança é um aspecto fundamental”.
Portanto, concluímos que a cultura é um
processo social, dinâmico, em todos os seus aspectos e tem como consequência
fortalecer a identidade pessoal e social do indivíduo, bem como de integrá-lo
em seu grupo.
[1] Graduado em Ciências Sociais, estudante
de Pedagogia e professor de sociologia e filosofia do ensino médio.